quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Já é natal na Leader Magazine...

E de repente é Natal, luzes piscando na janela&liquidação. O Pai-Noel de todos com suas roupas incompatíveis com um Rio 40º, árvores, presentes. E toda a comida típica, surreal, nozes, panetone, tender, chester, peru, passas, tudo em quantidade tal que sustente a todos, caso a casa fosse um bunker e o mundo um cenário catastroficopósnuclear.

E de repente é Natal, e impressiona pensar tudo isso conseqüência de um só garoto, doismilanos antes nascido. Décimo terceiro salário intimamente ligado a isso, sei não, parece exagero. Claro, deve ser um milagre o garoto nascer se formos considerar as condições pouco higiênicas de uma manjedoura para um recém-nascido, ausência de uma parteira e época na qual aconteceu. Mas lembremos que o rapaz era filho direto do Homem, nascido de mãe virgem, o que deve sensivelmente melhorar as suas chances. Mais do que isso, mais tarde morreu, ressuscitou e ascendeu aos céus. Não devia ser ESSE o feriado grandes coisa pra cristandade?

De repente é Natal, e estou na sala eu, pai, vô –os três ateus, ateíssimos, uns mais, outros menos religiosos. Conversando e um pouco embriagados de vinho e atmosfera, felicidade incontida.

De repente é natal, meia-noite sem estrela guia, e todas essas coisas não tem nada a ver com comércio nem religião.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Sobre ser previdente

Saí de casa munido apenas de minha carteira e celular, sem os quais me sentiria nu, e minha roupa do corpo,sem a qual seria preso. Fui ao banco em uma ensolarada segunda com a despreocupação de quem posterga e atrasa o bater ponto do trabalho numa véspera de feriado e decidido a pensar em meu futuro longínqüo e distante, lá pros idos de 2051, quando pretendo me aposentar. Não sei ainda de que espécime de trabalho ou bico, mas vá lá, ainda tenho 44 anos pra descobrir e fazer a carreira. Enfim, sem delongas: resolvi começar um incrivel Plano de Previdência Privada. (palmas!)

(Pra quem não sabe, o Estado está falido e, por volta de 2041, as chances de você receber uma boa aposentadoria pelo INSS vão ser ainda menores do que a taxa de sobreviência no hiperespaço sem o modelito austronáutico adequado; essa afirmação só não é verdadeira hoje porque não chegamos no hiperespaço ainda.)

Chego lá, imponente, do alto de meus vinte visionários anos e sento de frente a uma mocinha que simpaticamente se dispõe a me explicar exatamente no que é que eu queria me meter. Depois de um período insuficiente de preparo, eis que dispara a primeira e cabulosa pergunta:

- Prefere VGBL ou PGBL?

Tentei. Fiz cara de conteúdo. Não me valeu. Explicou suspirante que um era melhor pra quem declarava imposto de renda de verdade e o outro pra quem não declarava, ou declarava de mentirinha (leia-se: declaração simplificada de IR). Em terreno pouco menos pantanoso, respondi que não, não declarava imposto e assim ela pode decidir qual deles era melhor pra mim.

- Vai depositar quanto por mês?

Achava que uns cinquenta reais

-Cinquenta por mês é o mínimo – declarou triunfalmente. Era uma tentativa cínica de dizer que cinquenta paus por mês não resolve pra um aposentado. Quando você vai querer receber?
Não sabia, ela insistiu “por questões de estudo”. Com 60 anos, eu falei porque parecia insólitamente distante e ela digitou e sorriu só com o canto da boca: isso dá uma aposentadoria de oitocentos e qualquer coisa por mês! Mas falou com escárnio, vendo minha cara de típico branco-pequeno-burguês-comunicólogo-puquiano me desafiando a dizer: ‘Que bom! Isso é suficiente pra um velho doente e inválido que não ganha dinheiro com mais nada!’.

Merda. Eu estava lidando com uma verdadeira profissional. Não disse nada, mas fiz uma nota mental de aumentar a contribuição tão logo pudesse. Ficar velho não é exatamente a Disneylândia, mas ficar velho E sem dinheiro é estar REALMENTE fodido. Mas, por hora, cinquenta pratas ao mês é o que tenho e ponto final.

Algumas desagradáveis perguntas depois (estado civil, pra me lembrar de minha estagnada e, por que não inexistente?, vida amorosa e quem vai ser meu beneficiário, noutras palavras, quem ganha se eu for pro beleléu –bolas, como se ficar velho não fosse suficiente, eu morro e perco os frutos de previdente investimento); algumas desagradáveis perguntas depois, vou embora satisfeito comigo mesmo.

Finalmente posso dormir tranquilo sabendo que tenho garantidos oitocentos paus pros caóticos dias pós III Guerra Mundial (a primeira exclusivamente nuclear!) e dominação global pelos chinas e pelo Google.

Gênio indomável (ai que brega!)

Arthur Rimbaud, Álvares de Azevedo, Kurt Cobain, Wolfgang Amadeus Mozart, Noel Rosa. Gênios que morreram relativamente jovens e deixaram uma obra de qualidade, apesar do pouco tempo que tiveram para produzir. Em comum, a genialidade precoce e a sensação de que poderiam ter feito muito mais. Sabe quem eu acho que pode, no futuro, ser incluída nessa lista? Amy Winehouse.

Calma, ela ainda não morreu, mas se continuar a se destruir da forma que faz, em breve leremos seu obituário (ela está com 23 anos). Tem gente que diz que é marketing, joguinho de cena para atrair a atenção da mídia e aparecer em sites de fofoca. Sei não... ninguém mistura ecstasy, cocaína, remédio de cavalo, vodca e uísque só para chamar a atenção (
leia matéria do Globo Online).

Até porque ela não precisa, porque faz música boa. Longe de mim querer comparar Amy a Mozart, por exemplo, mas é fato que a branquela com vozeirão black é genial. A inglesa compõe suas próprias músicas e as carrega de influências do soul, jazz e R&B americanos, o que, por si só, não quer dizer absolutamente nada. O negócio é que ela faz isso bem pra caceta e, de quebra, com letras inteligentes.

Em Frank (2003), ela tentou misturar pop com jazz, mas não foi tão bem sucedida, apesar do disco ter boas faixas como a debochada Fuck me Pumps e October Song. Mas o melhor ainda estava por vir. Desculpem o vocabulário, mas Back to Black (2006) é do caralho; na minha modesta opinião, o melhor disco de música pop dos anos 2000.

É bem-produzido e não tem nenhuma faixa ruim, mas eu destacaria a famosinha Rehab, Love is a Losing Game, Me & Mr Jones e You Know I’m no Good (que tem um
clipe legalzinho). Mas, a mais avassaladora é mesmo a que dá nome ao disco: Back to Black, uma obra-prima. Músicos fodões, arranjos e melodias bem trabalhados, letras espertinhas. Resumindo: irretocável.

A última semana foi ruim para Amy. No primeiro show de sua nova turnê, em Birmingham, ela foi vaiada pelo público após gaguejar, deixar o microfone cair e sair do palco sem explicações. O produtor da turnê, Thom Stone, se demitiu, supostamente por causa dos problemas da cantora com as drogas. Curiosamente, Amy já demitiu um produtor que pediu para ela se internar numa clínica de reabilitação. Pra completar, volta e meia ela está nos noticiários por coisas que, quase sempre, envolvem doses cavalares de álcool, drogas e pancadaria com o marido.

Apesar dos pesares, o produtor Mark Ronson anunciou que Amy Winehouse está pronta para gravar seu próximo álbum. Como eu acho que não foi por acaso que ela fez o que fez em Back to Black, aguardo ansiosamente o novo disco. Mesmo porque, humor-negro à parte, pode ser o último.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Eu e a Mola

Fui convidado para trabalhar em um congresso de medicina. Na verdade, eu não fui convidado, mas me encaixei em uma das muitas funções inúteis das quais ele necessita, por ser amigo do filho da presidente do laboratório que o organizava (ou seja, nenhum mérito, só contatos). Meu objetivo com isso, logicamente, não era contribuir para o melhor funcionamento do evento, mas sim ganhar uma grana e patrocinar um padrão de vida alto por uns tempos – antes de voltar com tudo para a pindaíba da vida universitária.

A caminho do congresso, fui pensando em que seria utilizado. Eu nunca tinha trabalhado naquilo na vida, seria tudo novidade. Será que tentariam me encaixar numa área de informática para aproveitar as minhas aulas sobre o assunto? Quem sabe eu não iria ter que usar meu inglês e francês tão enferrujados? Não foi nada disso. Eu me considero uma pessoa de capacidades intelectuais acima da média, mas a tarefa da qual eu fiquei responsável não queria nem saber da minha formação: a mim cabia ser porteiro de uma sala, garantindo que cada congressista só entraria nela com um crachá, e que a porta seria fechada após a passagem de cada participante.

Achei a tarefa fácil, e realmente ela era bem simples. Mas acreditem: eu falhei. Nunca fui adepto do cumprimento das leis e regras tais como elas são estabelecidas. Carioca da gema e brasileiro com muito orgulho, sou daqueles que acham que tudo deve ser flexibilizado, que não há nada para o que não haja um “jeitinho”. Assim, eu ficava com pena de barrar as pobres criaturinhas que se esqueciam de pendurar sua identificação no pescoço. Eu não conseguia ser honesto o suficiente para cumprir a lei. Pensava na trabalheira que seria pedi-las para parar, explicar educadamente por que as interrompia e fazê-las pegar o crachá em suas bolsas.

Entretanto, para não me considerar um corrupto incorrigível, resolvi flexibilizar o critério de identificação. Junto do crachá, as pessoas recebiam também uma maleta verde. Portanto, mesmo que o indivíduo não tivesse a identificação no pescoço, poderia entrar se portasse a maleta.

Sim, eu falhei de novo. De cada cinqüenta pessoas que entravam, uma pelo menos não tinha nem maleta nem crachá, mas eu continuava com pena de interferir no seu trajeto. Vendo que eu definitivamente não tinha nascido para cobrar o cumprimento das leis, desisti, resolvi liberar geral. Agora entrava na sala quem quisesse, tinha virado festa. Até a regra 1.1 – não deixar que crianças entrassem – eu desrespeitei quando vi a linda cena de uma garotinha inocente adentrando a sala de mãos dadas com a sua mãe.

Mas eu ainda não queria me ver como um completo inútil. Então, resolvi me concentrar na segunda tarefa: não permitir que a porta ficasse aberta.

Finalmente, o sucesso!!! Era só alguém entrar ou sair da sala sem fechar a porta que, como um raio, eu ia fechá-la. Virei o melhor porteiro do evento. Tá certo que até uma pessoa cheia de bombas, com cara de psicopata e sem crachá entraria na sala, mas com certeza a porta seria rapidamente fechada logo após.

Pensando bem, eu já não sabia se isso era sucesso ou fracasso. Eu nunca fui muito de trabalhar, mas como todo jovem, sempre sonhei que seria um grande estrondo na minha carreira. Agora, no primeiro emprego, estava ali como um fechador de portas. O que diria a minha mãe que gastou rios de dinheiro na minha educação? Saber línguas como inglês e francês; conhecer pensadores como Montesquieu, Marx e Weber; entender inutilidades, como por que a vaca produz leite e o gelo afunda na água, enfim, qualquer coisa que me havia sido ensinada nos últimos 15 anos era inútil quando o foco estava em empurrar uma porta. Resolvi parar de pensar e voltar a me concentrar na minha pseudo-utlidade para não ficar deprimido.

Foi então que notei a minha macabra semelhança com uma mola. Eu estava fazendo exatamente o serviço dela. Pensando melhor, agora eu era completamente descartável. Uma mola faz o meu serviço e não come, não tem sede, não tem sono, não é corruptível e nunca dá eventuais saidinhas para ir comer o amendoim dado de brinde nas barraquinhas ao lado. O pior de tudo é que eu custava 150 reais por dia, a mola, dois reais na esquina. Sinceramente, eu me despediria.

Fiquei aflito, meu primeiro emprego estava em perigo. Havia virado um simples homem-mola. Se a minha chefe me notasse, certamente me demitiria e colocaria uma mola na porta. Seria triste eu voltar para casa mais cedo e decepcionar todos aqueles que acreditavam no meu potencial. Não podia continuar assim. Teria que me diversificar se quisesse durar na profissão de tapa-buraco de congresso. Rumo aos crachás de novo! e seja o que Deus quiser.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

O guarda-chuva e o individualismo

Dias de chuva sempre conduzem a boas reflexões. Aquele tipo de discussão, de que depende toda a sua vida, surge nesses dias. O guarda-chuva sempre foi um objeto incômodo para mim. Incômodo por denunciar demais. Eu o elegeria como o símbolo máximo do individualismo na sociedade. Quer algo mais individualista que um guarda-chuva? É anatomicamente feito para uma pessoa só. Não conheço ninguém que se sinta bem, dividindo um guarda-chuva, independente do tamanho deste. Não dá! A pessoa sempre reclama que está pingando nela. Então, você tem que se contorcer para dar para os dois. Por mais que você aceite a suposta solidariedade daquele que se propõe a dividi-lo com você, fica sempre aquela sensação de que “tem gente demais aqui!”. E há também o perigo potencial do dito cujo. Já perdi a conta de quantas pessoas quase ceguei andando com aquilo.

Acho que se pode dizer muito sobre quem consegue manejar bem um guarda-chuva. Para começar, essa pessoa é muito equilibrada física e emocionalmente. No mínimo. Nada de comportamentos demasiadamente passionais. Saber a hora certa de dar aquela sutil “viradinha”, para não esbarrar com o outro que vem em sua direção, é uma arte! Sem contar que é também um desejo subconsciente de não se misturar e evitar dirigir-se ao infeliz para pedir desculpas. É o tal do “comportamento de reserva” do Georg Simmel. Aquele mesmo que faz com que, às vezes, se torne tão difícil se dirigir ao padeiro às 7 da manhã ou segurar o elevador quando você tem a opção de um trajeto livre do silêncio constrangedor. Então passamos rapidamente uns pelos outros, fazendo um enorme esforço para não sairmos de nosso taxímetro mental. Não importa se você está parado no ponto de ônibus e há alguém secretamente desejando que você ofereça uma cobertura. Quem mandou esquecer o guarda-chuva em casa, hein? Não vivemos mais no tempo em que dividir um guarda-chuva era exatamente isso: dividir um guarda-chuva! Somos de um tempo que teme sociopatas, psicóticos, ladrões, muitas vezes vítimas e frutos do mesmo individualismo de aqui falo.

Cultivamos um olhar cada vez mais blasé em relação ao outro. Às vezes, um simples artefato do cotidiano e como fazemos uso dele pode denunciar a distância emocional em que nos encontramos. Talvez um dia passem a fabricar“guarda-chuvas solidários”. Até lá, vamos pegando chuva mesmo ou usando casaco com capuz, só para garantir. Ah e é claro que é muita falta do que fazer minha escrever um texto falando sobre o que eu acho do guarda-chuva. Mas é o que eu disse. Dias de chuva. Falta do que fazer, oficina da bobagem...E como disse o Cazuza, "o que salva a gente é a futilidade".

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Putz!

Eu podia muito bem falar mal do concurso 'Estilo Puc'. Podia muito bem dizer que é uma grande babaquice que chegou a causar furor no G1. Que professor ter liberado da aula pra assistir é um absurdo, que 'tie-dye futurista' é o meu cu, que a menina estar no nono período de um curso com oito diz alguma coisa sobre ela, que eu nunca vi tanto disparate em declarações etc&tal.

Mas aí eu estaria sendo preconceituoso, quiçá recalcado pelo fato de não ser a garota mais estilosa da PUC. Me espanta, entretanto, que o PUC pela Paz, evento talvez de interesse mais amplo porque não limitado ao âmbito do campus esteja sendo tão amplamente ignorado.

(Mas, novamente, quem sou eu, só um rapaz preconceituoso e recalcado.)

Ps. estou organizando uma caravana pra Oz; eu vou buscar o meu estilo, sugiro as senhoritas participantes de tão glorioso concurso que acompanhem. Ouvi falar de um espantalho que até conseguiu um cérebro.

sábado, 10 de novembro de 2007

Ele está pra chegar

Final de ano chegando e com ele o personagem que inferniza nossas semanas pré-pós-natalinas. Não é o Papai Noel, não é a Xuxa (onde anda ela?), mas é tão óbvio quanto. Sim, é ele, o Rei Roberto Carlos!

Daí começam as piadas e os comentários tão previsíveis quanto o próprio cantor: ele não produz nada de novo há anos, ele está decadente, os especiais são todos iguais, e claro, não poderia faltar a inevitável comparação de Roberto com o panetone, afinal, ambos só aparecem no Natal e na Páscoa...

Ok, todos estão certos, ele foi (quase) sempre um xarope e ninguém o agüenta de uns anos pra cá. Mas isso é chover no molhado. Estou aqui para dizer com todas as letras o seguinte: sou fã do Roberto. Pronto, falei.

Reparem que não usei aspas quando me referi a ele como Rei. Dispensei qualquer ironia, sabem por quê? Porque de alguma forma esse título faz sentido. E não é só pelos recordes de vendas e o marketing avassalador que cerca o cantor ao longo de seus 48 anos de carreira. Basta ouvir com sensibilidade e um pingo de honestidade – essa é a palavra – a sua produção mais criativa, que vai de 1965 até, mais ou menos, 1976. Não há nada parecido na música pop do Brasil. Digo música pop porque o termo MPB surgiu no final dos anos sessenta carregado de preconceito. Era uma maneira de separar a “boa música”, feita por uma elite intelectual e nacionalista, da música jovem e alienada que vinha do exterior em forma de guitarras e histeria. Até hoje é um pouco assim, apesar da decisiva intervenção tropicalista. Naquele momento, portanto, o oposto de MPB era Jovem Guarda e Roberto Carlos.

Não quero entrar na história do movimento, discutir seus defeitos, qualidades e influências (ô teminha polêmico!), mas imagine uma seqüência musical com É Proibido Fumar, Negro Gato, Eu Sou Terrível e Você Não Serve Pra Mim. A festa está pronta. É irresistível!

A partir de 1968, Roberto entrou na melhor fase de sua carreira. As baladas adolescentes deram lugar a belíssimos temas românticos – sem ser piegas, acreditem! – e o rock’n’roll ingênuo virou black music tupiniquim de primeira. Quem nunca cantou inconscientemente os versos de Se Você Pensa? - Daqui pra frente tudo vai ser diferente, você tem que aprender a ser gente, o seu orgulho não vale nada! - A MPB que torcia o nariz para aquele imitador de João Gilberto agora descobria um tremendo compositor e intérprete de estilo inconfundível.

Além de afinadíssimo, o cantor desenvolveu um fraseado impressionante. Ouçam, por exemplo, a gravação original de Sua Estupidez, de 1969. O ritmo, a respiração, o tempo que ele entra nos versos, nada é convencional. O mesmo acontece em As Curvas da Estrada de Santos. Isso pra não falar das letras inspiradíssimas, simples e profundas. Roberto e Erasmo estavam compondo como nunca. Não à toa essas canções foram gravadas na mesma época por Gal Costa e Elis Regina respectivamente. São ainda desse período as memoráveis As Canções que Você Fez pra Mim, As Flores Do Jardim Da Nossa Casa, Detalhes, Como Dois e Dois (presente de Caetano), Debaixo Dos Caracóis Dos Seus Cabelos (a retribuição), Todos Estão Surdos, e mais, muito mais.

E Roberto, quem diria, fez até música sobre maconha (!!!) com Erasmo. Ela se chama Maria Joana (pescou o trocadilho infame?) e está no indispensável Carlos, Erasmo, de 1971.

Depois desse período, Roberto foi perdendo o rumo. As boas canções eram cada vez mais raras. Continuou vendendo horrores – o auge foi o álbum Roberto Carlos, de 1981, com três milhões de cópias incluindo o mega-sucesso Emoções - e firmando a imagem cafona de latin lover. Passou por fases constrangedoras. Teve a “defesa da Amazônia”, as homenagens às “mulheres comuns” (gordinhas, baixinhas, quatro-olhos...) e até funk com Mc Leozinho no ano passado. Sem falar da intensificação das canções religiosas, MUITO diferentes da pulsante Todos Estão Surdos, de 1971. Foi o fundo do poço.

Numa recém-divulgada lista (ó, listas!) dos 100 maiores discos da música brasileira feita pela Rolling Stone, Roberto aparece com quatro álbuns. Não é pouco considerando a concorrência. São eles Jovem Guarda (1965), Em Ritmo de Aventura (1967), O Inimitável (1968) e Roberto Carlos (1971). Eu ainda acrescentaria o RC de 1969.

O jornalista Pedro Alexandre Sanches, autor dos livros Tropicália – a decadência bonita do samba e Como dois e dois são cinco – Roberto Carlos (& Erasmo & Wanderléa), diz uma coisa que concordo mais a cada dia: “Erasmo e Roberto são a espinha dorsal da música popular brasileira, de toda e qualquer música brasileira”.

Vale pensar (e ouvir), concordando ou não.

E claro, assistirei ao Especial apesar dos pesares.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Superbad - É Hoje

O filme começa com uma conversa de celular sobre qual site pornô ele deveria assinar. Termina com numerosa variedade de desenhos com caralhos. Não que seja mais ou menos escandaloso que a maioria - pra falar a verdade, é ligeiramente menos grosseiro que 'O Virgem de 40 anos' dos mesmos produtores e/ou diretor-, mas brinca com nossas idéias feitas, preconceitos e clichês na já tão profundamente documentada sexualidade teen/young adult atual, vide American Pies & Cia, na Blockbuster mais perto da sua casa.

O filme é um besteirol deslavado, só pra quem não tem medo de perguntar se Truffaut é de comer - eu não tenho, e, aliás, o François vai bem com creme de leite. Mas fica um residual que é o seguinte. Essa garotada (a nossa geração) tá em uma fissura quase compulsiva por sexo sexo sexo. Ultrapassa questões ideológicas e até de puro prazer carnal. É sexo pelo sexo, sem bandeiras, sem objetivo, sem nada. Pansexualismo, sexo homossexual, sexo anal giratório, boquete, Kama Sutra, punheta, dominatrix, inversão de papéis e vai...

Aí ficam, fascinados pelo Ato, de uma lado a geração wohooo(!!!) e do outro os pudicos de plantão. E gente esquizofrenicamente pairando: pudico querendo ser wohooo(!!!), wohooo(!!!) querendo ser pudico e gente perdida no meio. Mas todos eles absorvidos, envolvidos na divina aura sexual -divina por ser mística, divina por não sê-lo.

Quer saber?!? Foda-se.

E tenho dito.

sábado, 3 de novembro de 2007

Politicamente correto

Hesitei em escrever esse texto porque eu acho que vou ser xingado. Mas, sei lá, quando eu pensei esse blog junto com o PH e, depois, com o Nuno e a Elis, tinha a idéia não só de fazer uma montoeira de textos, mas um espaço pra algum debate. Tá bom, vamos parar de enrolação, eu quero é botar lenha na fogueira!

Odeio esse lance de politicamente correto, acho um porre. Nada pessoal, Elis. Não digo que seja seu caso, mas muitas vezes é pura hipocrisia. Eu nunca quis ter um boneco do Comandos em Ação tetraplégico e nunca brinquei de Jaspion maneta. Não sei até que ponto ter bonecos como esses me faria uma pessoa melhor e mais tolerante.

Que fique claro, não sou preconceituoso e defendo a inclusão social. Acho que nossos políticos têm que investir em calçadas melhores, exigir adaptações nos ônibus, e essas coisas todas. Mas esse debate tem limite, tem momentos que ele beira o ridículo.

Parapan, por exemplo, é muito chato! Mais chato ainda é a discussão sobre a pouca atenção que a massa dá a ele. A Olimpíada (e o Pan também) é, por definição, excludente. Só jogam os melhores, mais fortes e mais rápidos. Eu nunca vou poder disputar uma Olimpíada porque, assim como um deficiente físico, eu não nasci forte o suficiente.

Da mesma forma que uma pessoa sem perna não consegue jogar na Seleção, eu, Nuno e PH juntos também não conseguimos roubar uma bola do Robinho. Claro, deficientes têm direito a jogar futebol, a competir, mas não podem esperar – como muitos pregam – que o jogo de futebol de cegos tenha a mesma atenção do Campeonato Brasileiro. Ninguém nunca se interessou nas minhas peladas de quarta-feira também.

Vale ler uma entrevista do site Mídia sem Máscara com o filósofo Vladimir Volkoff em
http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=1930. Ele é também um crítico contundente do politicamente correto.

Boneca com síndrome de down? Sei não, parece brincadeira de mau gosto.